Seguem os textos:
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O equilíbrio entre o juízo temerário e o discernimento espiritual
Se as Escrituras desencorajam o juízo temerário, elas encorajam o discernimento espiritual, sem o qual corre-se o risco de chamar o mal de bem e o bem de mal, a escuridão de claridade e a claridade de escuridão, o amargo de doce e vice-versa (Is 5.20).
Discernimento espiritual nada mais é do que distinguir com a maior precisão possível uma coisa da outra — cujas diferenças nem sempre aparecem à primeira vista — com o propósito de fazer o juízo certo. Em qualquer esfera da vida, há uma porção de pessoas, de pronunciamentos e de produtos falsos. Lidamos com isso diuturnamente. O mesmo problema invade e permeia a vida religiosa. É impressionante a lista de coisas falsas que a Bíblia denuncia: testemunho falso (Êx 20.16), notícias falsas (Êx 23.1), acusação falsa (Êx 23.7), juramento falso (Lv 6.3), língua falsa (Pv 21.6), pena falsa (Jr 8.8), visão falsa (Jr 14.14), circuncisão falsa (Fp 3.2), humildade falsa (Cl 2.23), irmãos falsos (2Co 11.26), profetas falsos (Mt 7.15), mestres falsos (2Pe 2.1), apóstolos falsos (2Co 11.13), espíritos falsos (1Jo 4.1) e até cristos falsos (Mt 24.24).
O campo do discernimento é muito vasto e difícil. É preciso discernir entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira, entre a vontade de Deus e a vontade própria, entre os grandes momentos de Deus e os acontecimentos comuns, entre o Espírito da verdade e o espírito do erro. Uma das parábolas de Jesus fala sobre o trigo e o joio.
A matéria de capa desta edição exigiu da redação e dos demais articulistas o cuidadoso equilíbrio entre o juízo temerário e o discernimento espiritual. Buscamos obedecer ao conselho do apóstolo: “Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1Tm 5.20-21).
E. César""
fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/313/o-equilibrio-entre-o-juizo-temerario-e-o-discernimento-espiritual
O segundo texto é:
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Cristão pode
julgar? (AX) (1)
(Deverá “clicar” nas referências bíblicas para ter acesso aos
textos)
(Se não conseguir ver as letras em hebraico, no III Capítulo, deverá
aplicar
ao seu computador a fonte que está na página principal) (nota do Tiago: o recurso de clicar para ter acesso aos textos
bíblicos provavelmente não funcionará no meu blog, assim também para as
letras em hebraico; provavelmente, portanto, esse texto poderá ser
melhor visualizado em seu site de origem: http://www.estudos-biblicos.net/julgar-ax.html)
Coisa espantosa e
horrenda se anda fazendo na terra: os
profetas profetizam falsamente, e os
sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas
chegarem ao seu fim? – Jeremias 5:30/31.
Não julgueis segundo a aparência, e sim
pela reta justiça. – João 7:24
Ou não sabeis que
os santos hão de julgar o mundo? Ora, se
o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas
mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as
coisas desta vida! Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos,
constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja. Para
vergonha vo-lo digo. Não há, porventura,
nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? 1ª Coríntios 6:2/5
Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti -lhe face a
face, porque se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns
da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e,
por fim, veio a apartar -se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele,
a ponto de o próprio Barnabé ter-se
deixado levar pela dissimulação deles. Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a
verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos... Gálatas 2:11/14.
INTRODUÇÃO
O cristão pode julgar? Esta é
uma pergunta que poderia ser irrelevante. Poderia não fosse a impressionante
realidade que estamos vivenciando nos dias de hoje. Este autor tem escritos
diversos artigos publicados no jesussite.org (2) os quais
têm motivado alguns leitores a lhe escreverem mensagens eletrônicas. Alguns
escrevem para agradecer, outros apenas para elogiar e outros para expressar
sentimentos que variam de frustração à ira. Entres este último grupo as
críticas podem ser facilmente classificadas em quatro categorias, a saber:
1)
Em
primeiro lugar, o campeão disparado, é a citação de alguns versículos bíblicos,
com especial ênfase nas passagens de Mateus 7:1/5 e Romanos 14:4/10
visando mostrar quão errado, impróprio e até anti-cristão é o ato de julgar.
2)
Em
segundo lugar estão aqueles que sugerem que não é possível julgar a ninguém
porque somente Deus sabe os verdadeiros motivos das pessoas. Estes sugerem que
devemos deixar tudo correr como tem que correr e aguardar o juízo final de
Deus.
3)
Em
terceiro lugar está a turma do “deixa disso” alegando que toda crítica é
perniciosa e causa divisões no corpo de Cristo. “Irmão Alex”, me escrevem
“temos que manter a unidade a qualquer custo”.
4)
Em
quarto lugar estão aqueles que pedem para que nomes não sejam mencionados
porque este ato prejudica demais aos citados. Neste último lote se encontram
muitos pastores que consideram um sinal de maturidade e maior espiritualidade
não citarem nomes quando querem fazer uma crítica.
O autor não consegue evitar a
profunda tristeza que experimenta ao perceber nestas mensagens eletrônicas o
nível em que se encontram os cristãos em geral e a cristandade (3) em particular. Um velho professor e amigo costumava dizer o seguinte:
“Alex, a ignorância é o paraíso”. E hoje, 25 anos depois, sou obrigado a
concordar absolutamente com ele.
Sinto-me motivado a escrever
este artigo porque observo que muito desta ignorância é alimentada pelos
próprios indivíduos que gostam de se intitular “Pastores, Reverendos, Mestres,
Doutores, Bispos” e, ultimamente, “Apóstolos”. Em vez de ensinarem o que a Bíblia diz acerca da
responsabilidade cristã de julgar preferem alimentar a ignorância do povo.
Este ato, o de alimentar a ignorância, visa à auto defesa que procura colocar
estes indivíduos acima e fora do alcance de qualquer admoestação, censura ou
repreensão. E infelizmente, para complicar ainda mais a situação, os crentes em
geral se submetem a este tipo de abuso espiritual, fazendo-o, a grande maioria,
de boa vontade. Este problema, a associação daqueles que têm a responsabilidade
de guiar com aqueles que são guiados, para perverter a Palavra de Deus, não é
novo. O profeta Jeremias enfrentou situação semelhante e se não soubéssemos que
o mesmo profetizou entre 627 a 580 a.C. teríamos a impressão que ele estava se
referindo aos nossos dias tamanha a atualidade de suas palavras. O profeta
Jeremias diz o seguinte: Coisa espantosa e horrenda se
anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes
dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis
quando estas coisas chegarem ao seu fim? – ver Jeremias 5:30/31.
Para entendermos de forma mais precisa estas palavras de Jeremias é necessário
compreendermos o contexto em que elas foram ditas. A semelhança com os nossos
dias, como se verá, é inescapável!
I – O EXEMPLO DO PROFETA JEREMIAS
O profeta Jeremias começou a
profetizar nos dias do rei Josias, filho de Amon, que reinou (Josias) sobre o
reino de Judá de 640 a 609 a.C. Nos dias de Josias uma cópia do “Livro da Lei”
de Moisés foi encontrada na “Casa do SENHOR”, isto é, no templo em Jerusalém
pelo sumo sacerdote Hílquias – ver 2º Reis 22:8/20
e 2º Reis 23:1/3.
A leitura deste manuscrito descoberto no templo, causou profunda comoção no rei
Josias que chegou até mesmo a rasgar suas roupas, o que era um ato externo que
indicava como o rei estava se sentindo por dentro – ver 2º Reis 22:11. O
rei sabia o valor do documento que acabava de ser lido para ele. Este era um
livro, revelado por Deus, pelo qual, de forma padronizada e objetiva, todas as
tradições podiam e deveriam ser julgadas. Os sacerdotes e os príncipes do povo
eram os que tinham mais a perder com esta descoberta, pois os privilégios que
desfrutavam não eram sustentados pela Palavra de Deus. Para se protegerem
contra a perda destes privilégios estes sacerdotes tinham o apoio de falsos
profetas que vinham trazendo falsas revelações da parte de Deus. É contra este
corporativismo que Jeremias se levanta. Os falsos profetas que segundo o texto
profetizavam falsamente, isto é, falavam mentiras, estavam intimamente associados,
de mãos dadas, com os sacerdotes para dominar sobre o povo de Deus. E o próprio
povo de Deus aprovava tal dominação. Para Jeremias esta situação só podia ser
descrita de uma maneira: era algo espantoso e horrendo.
O coração do problema, como entendido
pelo profeta Jeremias, consistia em que havia uma aliança perversa entre os
falsos profetas, os sacerdotes e o povo para prestarem um culto a Deus que
fosse somente “da boca para fora”. Tal hipocrisia já havia sido denunciada pelo
próprio Deus através do profeta Isaías – ver Isaías 29:13. E foi
novamente denunciada pelo próprio Senhor Jesus em Seus dias – ver Mateus 15:7/9.
Nos dias de Jeremias não havia interesse
nem da parte dos falsos profetas, nem dos sacerdotes e nem do povo de reformar
honesta e completamente seus caminhos. Para estes, uma vez mantidas as
aparências estava tudo muito bom. Jeremias denuncia esta religiosidade falsa,
superficial e pretensiosa. A pergunta que ele faz é: que
fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim? Jeremias se refere ao
julgamento de Deus em que todo o povo de Judá estava incorrendo por praticar
uma religião que vivia somente de aparências. Para que possamos ter uma
compreensão do estado moral (4) que existia em Judá nos dias do profeta
Jeremias, nós temos que nos lembrar das palavras de Deus ditas através do
profeta no início do capítulo 5: Dai voltas às ruas de
Jerusalém; vede agora, procurai saber, buscai pelas suas praças a ver se achais alguém, se há um homem que
pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela – Jeremias 5:1. Que
cena patética! A promessa de Deus era que se fosse possível achar uma pessoa
somente que praticasse a justiça ou que buscasse a verdade em toda cidade de
Jerusalém, Deus estava disposto a perdoar o pecado de toda a cidade. Agora
imagine se Jeremias não tivesse se levantado e julgado (5) a
situação. Se ele não tivesse exercido o ato de julgamento acerca da situação em
que a nação de Judá se encontrava ele jamais poderia ter proferido as palavras
que proferiu. Nos dias de hoje vivemos uma situação semelhante. A Cristandade está
satisfeita em manter as aparências. Em prestar um culto apenas de lábios ao
Senhor. Em pretender ser aquilo que realmente não é. As insidiosas infiltrações
da chamada “Teologia do Domínio” que visam à criação de um verdadeiro exército
de “vencedores” liderados por uma nova casta de “profetas e apóstolos” e que
irão pavimentar o caminho para a volta do Senhor Jesus têm criado um
afastamento da verdadeira fé que não está sendo devidamente avaliada. Os dois
exemplos mais clamorosos são os representados pelo pastor colombiano César
Castellanos com suas teorias mirabolantes de “sonha e ganharás o mundo” e do
americano norte estadunidense Rick Warren que recentemente anunciou a criação
de um “exército” de um bilhão (6) de homens que irão implementar de fato
aquilo que ele tem chamado de “a segunda reforma”. Segundo Rick Warren, depois
de transformar as igrejas em “igrejas com propósitos”, depois de transformar as
vidas das pessoas em “vidas com propósitos”, agora chegou a hora de transformar
os países em “países com propósito”, preparando, desta maneira, o mundo para o
segundo advento do Senhor Jesus. Além de tudo isto, a Cristandade não aceita
nenhum tipo de crítica ou chamado ao arrependimento. Estão tão cheios de si
mesmos que precisamos repetir a pergunta de Jeremias: Que
fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?.
II – O CONCEITO DE JULGAR NA LÓGICA E NA PSICOLOGIA
Quando nos referimos no
estudo da Lógica, seja ela na tradição clássica (aristotélica-tomista), seja na
tradição moderna (dialética hegeliana), ao ato de julgar, estamos apenas
afirmando que é nosso desejo estabelecer uma relação mental entre dois ou mais
conceitos onde o julgamento em si não passa de uma simples proposição que
afirma ou nega a conexão existente entre estes mesmos conceitos (7).
Já na Psicologia o ato de
julgar não passa de uma outra expressão para caracterizar a perspicácia ou
sagacidade que são qualidades de todas as pessoas que possuem a habilidade de
discernir ou avaliar de maneira equilibrada uma determinada situação, fato ou
evento. A verdade que precisa ser dita aqui é que praticamente todas as
pessoas, com exceção daquelas que são mentalmente incapazes de raciocinar,
possuem esta capacidade de julgar, de avaliar, de discernir. É exatamente neste
sentido que o salmista pede a Deus que: Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos – Salmos 119:66 .
Assim podemos avaliar de
maneira equilibrada que é apenas lógico o que o dicionário Aurélio Século XXI
nos informa ser o escopo alcançado pelo verbo “julgar” no nosso idioma
português do Brasil. O Aurélio nos diz que o escopo vai muito além dos atos
executados por um juiz propriamente dito. O termo também descreve as ações
genéricas atribuídas a todas as pessoas sem distinção. Entre estas ações
podemos citar: supor, imaginar, conjeturar, formar opinião sobre, avaliar,
formar juízo crítico e apreciar.
Mas muito além das definições
filosóficas e psicológicas e mesmo morfológicas queremos saber como o Antigo
Testamento e o Novo Testamento definem o ato de julgar. O que queremos
aprender, caso a ilustração de Jeremias fornecida acima não tenha sido
suficiente, diz respeito ao fato se é ou
não lícito o crente julgar. Bem vejamos os que os dicionários de Hebraico e
Grego nos dizem acerca do ato de julgar.
III – OS CONCEITOS BÍBLICOS DE JULGAR
A – No Hebraico
Na língua hebraica a palavra
mais comum usada para expressar o ato de julgar é o verbo fpv – shapat (8) –
que é traduzido, basicamente, por julgar, governar. Deste verbo derivam os
substantivos fpv
– shepet – julgamento, fopv –
shepot – juízo e fpvm – mishpat – justiça ou ordenança. De acordo
com a concordância de James Strong (9) a palavra
fpv
– shapat
ocorre cerca de 125 vezes no Antigo Testamento, enquanto que o termo fpvm – mishpat
ocorre cerca de 420 vezes no mesmo texto hebraico.
Outro grupo de palavras no
Hebraico que também expressam o ato de julgar é representado pela expressão /yD – din – julgar, contender, suplicar e
pleitear. Desta palavra surgem os derivados /yD – din – julgamento, /yD – dayyan – juiz, /odm – madon – luta ou
contenda e hnydm – medinah – província.
Ainda de acordo com a concordância de James Strong (10) a palavra
/yD – din
ocorre, em todas as suas formas somente 23 vezes no Antigo Testamento. Para os
autores do Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento (11) o termo /yD – din possui uma gama
de significados que é exatamente a mesma do termo fpv –
shapat apesar de os mesmos serem usados de maneira tão desproporcional. Entres
estes significados encontramos: governar, em todo o elenco de atividades de
governo: legislativa, executiva, judiciária ou ainda outra. Ainda seguindo o
mesmo dicionário a diferença entre os termos é simplesmente que /yD – din é poético e
provavelmente também arcaico e mais elegante do que fpv
– shapat.
Em resumo podemos dizer que
existe um consenso entre os estudiosos de que os dois termos, fpv – shapat
e /yD – din bem como os termos deles derivados, se
referem às ações relacionadas à execução dos processos de governo. Estes termos
não possuem nenhuma conotação aos atos de julgar, avaliar ou discernir que são
comuns a todas as pessoas e se restringem à área do governo seja ele Divino ou
humano. Desta maneira podemos dizer, com certo grau de segurança, que no que
diz respeito à nossa questão se o crente pode julgar, o ensino do Antigo
Testamento cai na categoria expressa pela assim chamada “Lei do Silêncio”. Esta
“Lei” é uma norma estabelecida pelos intérpretes (exegetas), e diz que quando
um determinado assunto não for claro em um texto ou série de textos analisados
estes mesmos textos não poderão ser usados nem para apoiar a idéia nem para
condená-la. Este é exatamente o caso que temos diante de nós. O estudo dos
termos em hebraico relacionados ao ato de julgar não podem ser utilizados nem
para apoiar nem para condenar o ato de julgar como atribuição a todos os seres
humanos em geral. É óbvio que a ilustração de Jeremias citada acima ainda é
muito sugestiva. E o mesmo é verdadeiro com inúmeras outras passagens do Antigo
Testamento.
Para aqueles interessados em
aprofundar este estudo o autor sugere uma leitura do “Apêndice A” onde poderá
encontrar uma lista de todos os significados dos termos fpv – shapat e /yD
– din, bem como do termo fpvm – mishpat como apresentados pela concordância
exaustiva de James Strong. Poderá também procurar ler as definições contidas no
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento nas páginas 309 e 310
e nas páginas 1602 a 1606.
B – No Grego
No Novo Testamento grego
existem três palavras que estão diretamente relacionadas ao nosso estudo
referente ao ato de julgar. A seguir o leitor encontrará estes termos com a
definição dos mesmos conforme o Dicionário “A Concise Greek – English
Dictionary of The New Testament” (12):
1.
krinw -
krino – julgar, passar julgamento, ser julgado, condenar, decidir, determinar,
considerar, estimar, pensar e preferir.
2.
anakrinw - anakrino – questionar, examinar (estudar
as escrituras como em Actos
17:11), julgar, avaliar, sentar-se para julgar ou em juízo, convocar para
prestar contas.
3.
diakrinw - diakrino – avaliar, julgar, reconhecer,
discernir, fazer distinção entre pessoas, considerar-se ou fazer-se superior a
outras pessoas (ver 1ª
Coríntios 4:7), duvidar, hesitar, disputar, debater, tomar lado ou partido.
Para aqueles interessados em
aprofundar este estudo o autor sugere uma leitura do “Apêndice A” onde irá
encontrar uma lista de todos os significados dos três termos acima.
Uma quarta
palavra grega katakrinw - katakrino
– não tem significado para o nosso estudo já que a mesma é usada exclusivamente
para indicar o ato de passar julgamento ou condenar e não é usado no sentido de
determinar, considerar, avaliar etc.
O leitor
atencioso já terá notado que o significado dos termos gregos traduzidos pelas
formas do verbo “julgar” em português são bem mais abrangentes do que aquelas
em hebraico, que como vimos, se resumem à esfera de governo seja ele humano ou
Divino. No grego, como veremos em seguida, as palavras são aplicadas não
somente à esfera de governo, mas também à esfera da vida comum. Em grego as
palavras krinw - krino, anakrinw - anakrino e diakrinw - diakrino
dizem respeito também aos relacionamentos entre as pessoas comuns, e não estão,
como no caso do hebraico, relacionadas aos atos de governo, humano ou divino,
exclusivamente. Alguns versículos do Novo Testamento servirão para ilustrar o
uso que estes termos receberam tanto da parte de Jesus como da parte dos
apóstolos.
1. O termo grego krinw - krino aparece em todas as suas formas
cerca de 130 vezes no Novo Testamento grego. O termo é usado da seguinte
maneira:
a. Lucas, citando o apóstolo
usa o termo grego
krinw - krino para descrever tanto os atos de
julgamento sofridos pelo apóstolo diante do Sinédrio Actos 23:6/7
quando Paulo armou o maior salseiro ao dizer que estava sendo julgado por causa
da ressurreição dos mortos, bem como os atos diante do governador Félix Actos 24:21.
b. Em Actos 21:25 a
expressão é traduzida por “transmitimos decisões” referindo-se às orientações
que a igreja em Jerusalém havia passado aos gentios concernentes à necessidade
que eles (os gentios) tinham de se abster das coisas
sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e das relações
sexuais ilícitas.
c. Este termo é traduzido por
condenar em Actos
13:27 referindo-se à condenação do Senhor Jesus pelas autoridades e pelos
habitantes de Jerusalém como fruto de um processo de julgamento. O mesmo uso
(processo de julgamento) aparece em Romanos 2:27 e Tiago 5:9. Neste
último versículo somos advertidos a não nos queixarmos uns dos outros pois os
que agem desta maneira serão julgados pelo Senhor. Este não queixar uns dos outros não tem nada a ver com questões
doutrinárias e sim com a falta de paciência (ver Tiago 5:8). Este
versículo não pode ser aplicado de formas universal para justificar que não
podemos em nenhuma hipótese e sob nenhum motivo julgarmos uns aos outros. Ele
se aplica específicamente, neste contexto, à falta de paciência que
demonstramos de uns para com os outros especialmente quando parece que o Senhor
está demorando muito para voltar.
d.
krinw - krino é usado no sentido de separar para se referir àqueles que
usam suas opiniões para provar, avaliar ou estimar, ou seja, para discernir entre uma coisa e outra. É
desta maneira que esta palavra é usada em Romanos 14 por 5
vezes (versos 3, 4, 5, 10 e 13).
No capítulo 14 de
Romanos nós encontramos o apóstolo Paulo dando instruções acerca de como
proceder em questões que não são fundamentais para a vida de fé. Na opinião de Paulo
os crentes não devem discutir por causa de diferença de opinião em questões que
não sejam realmente relevantes para a vida de fé – ver Romanos 14:1. Para
ilustrar o que estava querendo dizer, o apóstolo Paulo descreve duas pessoas
onde uma primeira acredita que pode comer de tudo e, uma segunda, que Paulo
caracteriza como débil (fraca, frágil), que acredita que só pode comer legumes
– ver Romanos 14:2.
O conselho de Paulo diante desta situação é bastante objetivo. Paulo sabia que
em tais situações é somente humano o débil julgar o outro irmão, enquanto este,
por sua vez, teria a atitude de desprezar aquele mais fraco. Paulo diz que tais
atitudes, de julgamento e de desprezo não eram convenientes porque esta
situação não é fundamental para a vida de fé. Além disso, Deus acolhe tanto a
um quanto ao outro – ver Romanos 14:3. É por
este motivo que é completamente errado julgar um irmão por causa de algo não
relevante, como neste caso, por causa da comida já que o reino de Deus não é
comida nem bebida e sim justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo – ver Romanos 14:4 e Romanos 14:17.
Em seguida Paulo
dá uma segunda ilustração de coisas irrelevantes citando o fato de que também
poderiam existir pessoas que, por um lado, fizessem distinção entre um dia e
outro dia e, por outro lado, pessoas que considerassem todos os dias iguais. A
opinião de Paulo é que como esta questão envolve uma situação irrelevante cada
crente precisa ter uma opinião bem definida em sua própria mente – ver Romanos 14:5. Para
Paulo tanto uma coisa (fazer distinção), como a outra (não fazer distinção)
eram completamente irrelevantes na mesma linha que era irrelevante a questão da
comida – ver Romanos
14:6. O fato que torna estas coisas irrelevantes é a perspectiva de que
vivemos para o Senhor – ver Romanos 14:7/8.
Ou seja, se a questão em disputa não quebrar nenhum mandamento do Senhor ou não
for contrária a nada que está estabelecido nas Escrituras, ela é irrelevante.
Mas para chegarmos a esta conclusão é
necessário julgarmos o fato ou evento à luz da palavra revelada de Deus. A
bíblia é nosso padrão e não devemos discutir opiniões fora ou além daquilo que
está estabelecido nas Escrituras. “Sola (somente) Scriptura (as Escrituras)”
como única regra absoluta de fé e prática foi um dos lemas centrais da Reforma
Protestante. A conclusão de Paulo acerca destas questões é que não devemos nem julgar nem desprezar nossos
irmãos em questões irrelevantes, pois todos, sem exceção, teremos que
prestar contas a Deus um dia – ver Romanos 14:9/12.
Como pode ser
facilmente notado estes conselhos valem para acomodar situações que são
realmente indiferentes no que diz respeito à vida cristã. O apelo do apóstolo
Paulo é que, nestas questões que são
realmente indiferentes, não é atitude conveniente a um cristão nem julgar nem
desprezar outros irmãos – ver Romanos 14:10.
Entretanto este
critério não se aplica a situações onde podemos perceber que a ação de um certo
indivíduo não é realmente indiferente. Se o que estiver em pauta for algo
relevante, como por exemplo, um ensinamento que vai contra o que ensinam as
Escrituras Sagradas ou uma determinada prática claramente condenada nas
Escrituras então este princípio não se aplica. E como podemos determinar quando
se aplica de quando não se aplica? Só podemos determinar quando exercitamos
nosso juízo e discernimos uma coisa da
outra. Para discernir é preciso julgar. Para ilustrar vamos supor que um
determinado irmão está mentindo em uma certa situação. Neste caso, julgando as
evidências e confirmando o ato de mentir, o mesmo precisa ser confrontado e não
acomodado usando o texto de Romanos 14 para justificar que não podemos julgar. Se
a pessoa em questão for um pastor ou reverendo ou ancião ou até mesmo um
apóstolo nossa responsabilidade é a mesma. Se estiver errado, baseado nos
ensinamentos das Escrituras Sagradas, o mesmo precisa ser repreendido. Se o
erro for público e notório a exposição de tal erro precisará ter a mesma
dimensão sob o risco de não alcançarmos todas as pessoas que foram prejudicadas
pelo ensino ou exemplo errado. Por outro lado digamos que a questão diga
respeito às roupas que alguém está usando. Alguns acham que precisam se vestir
“mais socialmente” para irem adorar a Deus. Outros acham que podem usar roupas
que sejam “menos sociais e mais esportivas”. Quem está certo? Ora o único
mandamento acerca de vestimenta que temos válido na Nova Aliança é que devemos
nos vestir de forma decente e modesta. Pouco importa se a roupa é social ou
esportiva. Quem se veste socialmente não julgue o irmão que se veste
esportivamente e este por sua vez não despreze àquele! E acima de tudo, que
nenhum dos dois caia na besteira de achar que está agradando mais a Deus do que
o outro. Deus não está interessado nas roupas que vestimos contanto que sejam
decentes e modestas. Para escolher uma roupa que seja modesta e decente eu
também preciso exercitar minha capacidade de discernimento ou de julgamento.
Creio que já é o
bastante. Qualquer pessoa inteligente, e quase todas são, já percebeu o que
estamos querendo dizer até aqui.
Neste mesmo
sentido, o de exercitar a capacidade de julgamento para tomar uma decisão, o
termo é usado para se referir à Pilatos quando ele havia “decidido” soltar a
Jesus – ver Actos
3:13. Também se refere ao apóstolo Paulo quando ele determinou não aportar em Éfeso
porque não queria demorar na Ásia – ver Actos
20:16. O mesmo uso ocorre em Actos 25:25 …resolvi…; Actos 27:1 …resolvido…; 1ª Coríntios 2:2 decidi; 2ª Coríntios 2:1 Isto deliberei por mim mesmo… (mais direto impossível!); Tito 3:12 …estou resolvido….
e. Uma outra
maneira como o verbo “julgar” é usado no Novo Testamento tem a ver com a
capacidade de formar opinião baseado em um ato de julgamento. Uma ilustração
deste uso pode ser vista quando Jesus estava jantando com Simão, um fariseu –
ver Lucas 7:36.
Durante a refeição uma mulher, caracterizada como pecadora, adentrou o salão
trazendo consigo um vaso de alabastro e “estando por detrás, aos pés de Jesus,
chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e
beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento – Lucas 7:38. O
fariseu reage a esta atitude da mulher pensando consigo mesmo que se Jesus
fosse realmente um profeta saberia muito bem que tipo de mulher era aquela.
Jesus percebe e sabe exatamente o que o fariseu está pensando então lhe propõe
uma pequena parábola dizendo: Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos
denários, e o outro, cinqüenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar,
perdoou-lhes a ambos
- Lucas 7:41/43.
Em seguida Jesus pergunta a Simão: “Qual deles, portanto, o amará mais? – Vr. 42. Simão responde dizendo: Suponho que aquele a quem mais
perdoou – vr. 43a.
Após ouvir a resposta de Simão Jesus diz o seguinte: JULGASTE BEM – vr. 43b. O que Jesus queria dizer com estas
últimas palavras? Simplesmente que Simão havia avaliado, analisado, estimado e
formado uma opinião acerca da estória que havia ouvido dos lábios do Senhor.
Esta formação de opinião, analisando a história, permitiu não só que Simão
julgasse, mas que julgasse bem!
É desta mesma
maneira que o verbo krinw - krino
é usado em:
§ João 7:24 onde Jesus
diz: Não julgueis
segundo a aparência, e sim pela reta justiça. Note que Jesus não critica os Judeus
porque estavam julgando mas porque estavam julgando apenas pelas aparências.
Contra esta atitude, de julgar pelas aparências, Jesus ordena que julguem
segundo a reta justiça.
§ Actos 4:19 - Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante
de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar
de falar das coisas que vimos e ouvimos. Note como Pedro insiste em que os lideres
judaicos julguem!
2. O Termo grego anakrinw - anakrino era usado na cultura geral para
descrever a investigação preliminar para juntar provas que servissem de base
para a informação dos juízes. Partindo desta compreensão que envolve o ato de
investigar ou examinar, no Novo Testamento esta palavra é usada das seguintes
maneiras:
a. Como buscar ou
informar-se como por exemplo em Actos 17:11 onde um
grupo de cidadãos de uma cidade grega chamada Beréia são caracterizados como
sendo “mais nobre” do que os crentes de Tessalônica exatamente porque haviam
decidido julgar as informações que estavam recebendo do Apóstolo Paulo mediante
uma comparação entre o que Paulo dizia e o que diziam as Escrituras do Antigo
Testamento. O verso de Actos
17:11 diz textualmente o seguinte: Ora, estes de Beréia eram mais nobres que
os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para
ver se as coisas eram, de fato, assim.
Em 1ª Coríntios 9:3
este mesmo verbo é traduzido por “interpelar” e é um indicativo claro de que o
apóstolo Paulo estava sendo questionado (literalmente estava sendo julgado) por
certas pessoas que questionavam suas prerrogativas como apóstolo. A reação de
Paulo contra estes críticos não é sugerir que eles estavam errados ao julgá-lo
e sim dar-lhes uma resposta à altura das interpelações (críticas) que estava
recebendo.
Nesta mesma
linha, de questionar para obter informações, a expressão grega anakrinw - anakrino é usada em 1ª Coríntios
10:25/27 onde é traduzida por perguntardes.
b. Alcançar um
resultado que seja proveniente de investigação, de pesquisa e de julgamento. É
neste sentido que este verbo é traduzido tanto por discernir quanto por julgar
em 1ª Coríntios
2:14/15 onde podemos ler: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o
homem espiritual julga todas as coisas,
mas ele mesmo não é julgado por ninguém. É importante destacarmos aqui que Paulo
deixa bem claro que aquele a quem ele caracteriza por homem espiritual julga todas as coisas.
Em 1ª Coríntios 4:3/4
Paulo usa novamente o verbo grego anakrinw - anakrino para indicar que o supremo juiz
de todas as coisas é Deus. No contexto imediato Paulo está falando de
fidelidade a Deus. Dentro deste contexto Paulo deseja ser encontrado fiel.
Pouco lhe interessa ser julgado pelos Coríntios ou por outro tribunal humano. O
que Paulo deseja é ser fiel à vontade revelada de Deus. De fato, ele não se
julga nem a si mesmo, pois apesar de ter a consciência tranqüila Paulo sabia
que o justo Juiz é somente Deus. Mas isto não quer dizer que Paulo não estava aberto a ser criticado nem
que não criticava a outros. Um exemplo do primeiro caso é quando Paulo
admite que errou ao chamar o Sumo Sacerdote de parede branqueada – ver Actos 23:1/5. Do
segundo caso uma passagem que certamente pode ser citada neste contexto é a de Gálatas 2:11/14.
Nesta passagem Paulo descreve a maneira rígida como repreendeu a Pedro, a
Barnabé e outros irmãos porque, em suas próprias palavras, estes irmãos haviam se tornado repreensíveis...não
procedendo corretamente segundo a verdade do evangelho. Esta última passagem possui alguns
ingredientes muito interessantes.
1.
Em primeiro lugar nós encontramos o apóstolo Paulo julgando o
comportamento de outros irmãos porque estavam agindo de forma hipócrita usando
dois pesos e duas medidas. Paulo chama este comportamento de dissimulado.
2.
Tal dissimulação era, em segundo lugar, um comportamento
inconsistente com a verdade do evangelho.
3.
Em terceiro lugar Paulo não
evita usar nomes citando nominalmente a Pedro e a Barnabé.
Esta passagem
contém todos os ingredientes que aqueles que querem transgredir contra a
verdade do evangelho, mas que não querem ser criticados costumam usar para se
defender. Imagine Pedro e Barnabé argumentando com Paulo e dizendo:
1)
Paulo, não nos julgue, lembre-se do que Jesus falou acerca de “não
julgar”.
2)
Paulo, você não conhece nossos motivos, portanto não diga que
estamos agindo de forma dissimulada. Será que você não percebe que está nos
julgando?
3)
Em terceiro lugar Paulo, sua atitude certamente vai criar divisão
entre os irmãos. Você deveria pensar mais na unidade, nas coisas boas que nos
unem e deixar um pouco de lado este seu apego tão legalista e farisaico e
porque não hipócrita de amor à verdade do evangelho acima de tudo!
4)
E, por favor, Paulo, não cite nomes, isto é muito feio!
Espero que o
leitor perceba quão ridículos estes argumentos seriam! Todavia estes são, de
forma mais consistente, os argumentos usados por aqueles que estão agindo de
maneira errada e não querem, em nenhuma hipótese e sob nenhum pretexto, serem
criticados ou julgados. São estes mesmos que ensinam, em proveito próprio, que
é errado julgar. E o mais surpreendente é que existam pessoas que acreditem
nesta mentira, de que é errado julgar, e que ainda tomam as dores do pretenso
ofendido e saem em sua defesa.
c. Ainda neste
contexto existe ainda um terceiro significado para anakrinw - anakrino no Novo Testamento. Como este
significado diz respeito especificamente ao ato de examinar (interrogar)
mediante o uso de práticas de pressão e tortura o mesmo não possui um
significado que seja do nosso interesse neste estudo. Para aqueles que
gostariam de verificar o uso do mesmo seguem algumas referências básicas: Actos 4:8/10; Actos 12:19; Actos 14:7/9; Actos 28:16/18.
3. O Termo grego diakrinw - diakrino é usado no Novo Testamento para
indicar primariamente o ato de fazer distinção, de distinguir, resolver,
decidir. Na voz média (13) é usado no sentido de:
§ “Separar-se ou contender com” como fizeram
os judeus do partido da circuncisão com Pedro quando este retornou a Jerusalém
vindo da casa de Cornélio em Cesaréia – ver Actos 11:2 onde diakrinw - diakrino é traduzido por contenderam.
§ O mesmo sentido existe em Judas 1:9 que
descreve a contenda entre o Arcanjo Miguel e
Satanás acerca do corpo de Moisés.
a. Como o ato de
fazer separação ou distinção o termo é usado em Actos 15:9 onde
Pedro deixa claro que Deus não faz distinção entre judeus e gentios no que diz
respeito a salvação.
b. O ato de fazer
distinção implica em “discernir” que é definido pelo Dicionário Aurélio Século
XXI como: Conhecer distintamente; perceber claro por qualquer dos sentidos;
apreciar; distinguir; discriminar. É neste sentido que diakrinw - diakrino é utilizado, por exemplo, em 1ª Coríntios 11:31
onde Paulo diz que se nos julgássemos a nós mesmos não seríamos julgados (pelo Senhor). O que Paulo
está dizendo neste versículo é que precisamos discernir (conhecer distintamente)
nossa verdadeira condição diante do Senhor. Para alcançar este objetivo nós
temos que nos julgar a nós mesmos. O mesmo sentido aparece em 1ª Coríntios 14:29
onde os profetas têm a obrigação de julgar uns aos outros visando discernir
exatamente o que é procedente do Espírito Santo.
c. diakrinw - diakrino é usado em 1ª Coríntios 6:5 para
indicar a capacidade de “arbitrar” entre os irmãos mediante o uso das
capacidades de discernir ou discriminar.
d. A mesma
palavra é usada para indicar a distinção (pecaminosa) entre pessoas que
chamamos de discriminação e pode ser aplicada às classes sociais, aos
portadores de enfermidades, à coloração da pele e etc – ver Tiago 2:4.
Assim concluímos
os usos que o Antigo e o Novo Testamento fazem dos termos, que são traduzidos
por julgar, seja em forma de verbos seja em forma de substantivos. Como podemos
notar o Novo Testamento ao contrário do Antigo Testamento tem muito a nos
ensinar acerca da nossa responsabilidade de julgar no sentido de discernir,
fazer separação, analisar, avaliar, tirar conclusões, formar opinião etc. O
autor não irá tirar suas conclusões neste instante porque prefere deixar as
mesmas para depois da próxima divisão.
IV – JESUS REALMENTE ENSINOU QUE TODO E QUALQUER TIPO
DE JULGAMENTO É ERRADO?
Para podermos responder a
esta pergunta temos que analisar as palavras de Jesus como registradas em Mateus 7:1/ 6 e
passagens paralelas como Lucas 6:37/38 e Lucas 6:41/42
Apenas para
facilitar o autor irá citar o texto completo de Mateus 7:1/6
conforme a tradução de Almeida Revista e Atualizada (ARA). Mateus 7:
1 Não
julgueis (krinw – krino), para
que não sejais julgados (krinw – krino).
2 Pois, com o critério com
que julgardes (krinw – krino), sereis
julgados (krinw – krino); e, com a medida com que tiverdes medido,
vos medirão também.
3 Por que vês tu o argueiro
no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
4 Ou como dirás a teu irmão:
Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?
5 Hipócrita! Tira primeiro a
trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de
teu irmão.
6 Não deis aos cães o que é
santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com
os pés e, voltando-se, vos dilacerem.
A primeira coisa que devemos
notar no texto acima é que todas as formas do verbo julgar em português têm sua
origem no verbo grego
krinw – krino. Apenas para recordar o verbo grego krinw – krino possui os seguintes significados no Novo Testamento: julgar,
passar julgamento, ser julgado, condenar, decidir, determinar, considerar,
estimar, pensar e preferir.
Quando analisamos o verbo
grego krinw – krino em seus contextos nas páginas do Novo Testamento encontramos
algumas situações que valem à pena
serem descritas, pois as mesmas irão nos ajudar a determinar o quê exatamente
Jesus queria dizer quando proferiu as palavras acima. Por favor, note que todas
as referências que se referem aos Actos de juízo da parte de Deus e de Jesus
foram propositadamente omitidas, pois as mesmas não estão em questão neste
estudo. O mesmo acontece quando o verso descreve a ação de magistrados civis ou
militares.
§ Mateus 19:28 – Refere-se
aos discípulos que se assentarão para julgar
as doze tribos de Israel. A mesma idéia aparece em Lucas 22:30.
§ Curiosamente o evangelista Marcos não usa o
verbo grego krinw – krino.
§ Lucas 7:43 – Jesus
elogia Simão, o fariseu, por ter julgado
de forma correta.
§ Lucas 12:57 – Jesus
desafia as multidões a julgarem por
si mesmas o que é justo!
§ João 7:24 – Jesus
ordena aos judeus dos seus dias que não julgassem segundo as aparências e sim que julgassem segundo a reta justiça. Note que Jesus não os condena por
julgar e sim por julgar superficialmente pelas aparências.
§ Actos 4:19 – Pedro
desafia os líderes judeus a julgarem
corretamente a questão religiosa em disputa que dizia respeito à pregação feita
pelos apóstolos do Senhor. Não lhe diz que não julguem, pelo contrário usa o
verbo julgar no modo imperativo.
§ Actos 13:27 –
Refere-se ao ato de condenar a Jesus (após julgamento).
§ Actos 15:19 – Tiago
diz que era seu julgamento (análise,
formação de opinião e sentença) que os crentes judeus não deveriam perturbar os
crentes entre os gentios. Se Tiago não pudesse julgar a situação, formar
opinião e emitir uma sentença então ele estava cometendo um pecado.
§ Actos 16:4 – Este
versículo nos diz que Paulo informava aos irmãos o resultado do ato de julgar de Tiago conforme mencionado no
verso anterior da lista. É obvio que Tiago não havia transgredido contra o
mandamento de Jesus proferido em Mateus 7 quando disse “julgo eu”.
§ Actos 16:15 – Lídia
pede que Paulo e seus companheiros a julguem
se ela era fiel ao Senhor. É evidente que para poder avaliar a fidelidade de
Lídia certos aspectos bem definidos precisariam ser levados em consideração.
§ Actos 20:16 – Indica
que Paulo havia determinado (decidido) através de processos lógicos de julgamento não aportar em Éfeso. Paulo
julgou a conveniência ou não de aportar na cidade de Éfeso.
§ Actos 21:25 – Faz
nova referência ao ato de julgar de
Tiago em Actos 15:19.
§ Actos 26:8 – Paulo
questiona as autoridades romanas porque era tão difícil para elas julgar ser incrível a ressurreição dos
mortos. Note como julgar neste versículo tem tudo a ver com avaliar, discernir,
discriminar, procurar entender e etc.
§ Romanos 2:1 – Paulo
condena de forma veemente todos aqueles que julgam a outros, mas praticam as mesmas coisas que condenam. Este
verso está muito próximo do ensinamento de Jesus em Mateus 7. É a
hipocrisia e a pretensão que estão sendo condenadas – ver Mateus 7:3/5!
§ Romanos 2:3 – Mesma
linha de raciocínio do verso anterior. Se você pratica o que você condena
então...
§ Romanos 14 em
especial os versículos 3, 4, 5, 10, 13 e 22 – Já discutimos estes versículos
quando estudamos a palavra krinw – krino mais acima neste mesmo estudo.
§ 1ª Coríntios 2:2 –
Paulo fala da decisão que tomou mediante raciocínio lógico que certamente
envolveu avaliar, considerar, estimar etc. Tudo isto ajudou a produzir sua
decisão.
§ 1ª Coríntios 4:5 –
Paulo diz aos Coríntios que eles não deviam julgar nada antes do tempo, mas aguardar a vinda do Senhor que irá
trazer todas as coisas, mesmo as ocultas, à plena luz. O contexto imediato tem
a ver com a fidelidade que é requerida de todos os despenseiros de Deus – ver 1ª Coríntios 4:1/2.
Neste contexto Paulo diz que não lhe importa ser julgado pelos Coríntios ou por
outro tribunal humano. Somente Deus pode julgar nossa fidelidade. Agora é
óbvio, como veremos a seguir, que não podemos incluir nesta orientação de Paulo
a desculpa de que todo e qualquer julgamento deve ser deixado para quando Jesus
se manifestar. Até Jesus voltar nós teremos que lidar com falsos mestres, falso
messias, homens que induzem ao erro com artimanhas e com astúcia; teremos
também que lidar com aqueles que, mesmo entre nós, transgridem os mandamentos
do Senhor. Só podermos fazer isto se a nossa capacidade de julgar estiver
preservada.
§ 1ª Coríntios 5:3 –
Este verso nos fala exatamente da necessidade que temos de julgar a todos em nosso meio que transgridem contra os mandamentos
do Senhor. Paulo diz que já sentenciou o culpado de tamanha afronta.
§ 1ª Coríntios 5:12
– Paulo diz que quando deixamos de julgar
os de dentro da nossa comunidade nós perdemos a capacidade de julgar os de fora
– ver especialmente os versos 9 a 12. Paulo argumenta que como poderemos nós
julgar os malfeitores se nós não julgamos sequer aqueles que transgridem entre
nós? As palavras finais de Paulo são acachapantes: “Expulsai, pois, de entre
vós o malfeitor”.
§ 1ª Coríntios 6:1 –
Os crentes tanto devem julgar que Paulo se surpreende que havendo questões
entre irmãos a coisa não seja resolvida entre eles e sim que um irmão recorra
contra outro diante de tribunais comandados por pessoas não regeneradas
(injustos).
§ 1ª Coríntios 6:2 –
Paulo diz que os santos irão julgar
o mundo. Ele está se referindo aos próprios Coríntios e a todos nós. Ora se
vamos julgar o mundo como não temos competência para julgar as coisas mínimas?
§ 1ª Coríntios 6:3 –
Aqui Paulo usa mais um argumento acerca da responsabilidade que temos de julgar as coisas desta vida: nós vamos julgar os próprios anjos.
§ 1ª Coríntios 6:6 –
Paulo expressa verdadeira indignação pelo fato dos crentes não assumirem suas
responsabilidades no sentido de julgar
as questões surgidas entre os irmãos e levarem as mesmas para serem julgadas
por incrédulos nos tribunais humanos.
§ 1ª Coríntios 7:37
– Paulo fala da árdua decisão que, em virtude das circunstâncias, um pai
precisa tomar com relação à sua filha virgem.
§ 1ª Coríntios 10:15
– Paulo insiste com os Coríntios a que fujam da idolatria. Para que isto aconteça
Paulo reconhece que é necessário que os Coríntios usem a capacidade de julgar. Se eles forem incapazes de
julgar (avaliar, considerar, pesar, discernir etc), serão incapazes de perceber
as graves conseqüências da idolatria.
§ 1ª Coríntios 10:29
– Paulo defende a idéia de que nossa liberdade em Cristo não pode ser julgada pela consciência alheia. Note
que no contexto ele está se referindo à nossa liberdade em Cristo. Não está se
referindo a falsos ensinamentos nem a pecados cometidos contra os irmãos e
contra Deus.
§ 1ª Coríntios 11:13
– Paulo exorta aos Coríntios a que julguem
por eles mesmos!
§ 1ª Coríntios 11:31
– Paulo fala da necessidade que temos de julgar
especialmente a nós mesmos.
§ 1ª Coríntios 11:32
– Quando nos julgamos a nós
mesmos nós podemos ser disciplinados pelo Senhor.
§ 2ª Coríntios 2:1 –
Paulo fala de sua própria deliberação de não se encontrar novamente com os
Coríntios em tristeza.
§ 2ª Coríntios 5:14
– Paulo diz que podemos julgar (avaliar, perceber, entender, concluir) que
Cristo morreu como nosso representante.
§ Colossenses 2:16 –
Os cristãos estão sujeitos a serem julgados por pessoas legalistas, mas não
devem se submeter a este tipo de julgamento.
§ Tito 3:12 – Paulo
fala da sua decisão ou resolução de passar o inverno em Nicópolis.
§ Tiago 4:11/12 –
Tiago fala acerca do fato de que não devemos falar mal uns dos outros. Este é
um dos aspectos negativos do ato de julgar no Novo Testamento. Quando falamos
apenas mal de nosso próximo estamos fazendo um juízo temerário (arriscado,
imprudente, perigoso) e que é totalmente condenável.
§ Tiago 5:9 – Na
mesma linha dos versos anteriores nos ensina que quando nos queixamos uns dos
outros, especialmente por falta de paciência da nossa parte, estamos sujeitos
ao julgamento de Deus.
A lista acima deixa bem claro
que no Novo Testamento o ato de julgar vai muito além do nosso conceito moderno
de passar sentença ou condenar simplesmente. Para os autores do Novo Testamento
o que estava envolvido no uso da expressão grega krinw – krino tinha tudo a ver com comparar, separar,
fazer distinção, decidir, concluir, resolver, deliberar, discernir, avaliar,
formar opinião etc. Ou seja, tinha tudo a ver com o uso das capacidades de
pensamento e uso da razão visando nos permitir avaliar, criticar, discriminar e
formar juízo.
Dentro desta perspectiva
podemos afirmar com certeza que não era a intenção de Jesus ensinar que todo e
qualquer tipo de julgamento deve ser evitado quando proferiu as palavras
registradas em Mateus
7:1/6. À luz de como os autores do Novo Testamento entenderam e usaram a
palavra grega krinw – krino e baseados também no
contexto de Mateus 7 podemos dizer com grande certeza que o que Jesus estava
condenando era o julgamento superficial, desinformado, impulsivo, prematuro,
partidário, apressado, impensado e abusivo. Este tipo de julgamento é proibido
e completamente condenável. Jesus condena o julgamento pretensioso e hipócrita
feito por uma pessoa que está cometendo os mesmos erros que está condenando. O
leitor atento terá percebido que o autor citou Mateus 7:6 junto com
os versículos que falam dos perigos do juízo temerário. Isto foi feito de
propósito, pois como posso caracterizar alguém da maneira como descrita por
Jesus se não exercitar minha capacidade de julgamento?
Neste momento
gostaria de fazer uma pausa e abrir o espaço para que o médico e pastor, por
mais de 30 anos, da Capela de Westminster em Londres na Inglaterra, o Dr.
Martyn Lloyd-Jones, nos ensine acerca do que Jesus quis dizer em Mateus 7:1/6:
“Em Mateus 7 nós somos confrontados com uma
declaração que, com freqüência, tem provocado intensa confusão. Deve-se admitir
que está em pauta um assunto que facilmente pode ser mal compreendido quanto a
dois aspectos opostos e extremos, e isso quase invariavelmente em casos
verdadeiros. A pergunta que se faz
necessária é a seguinte: Que quis dizer, precisamente, o Senhor Jesus, ao
afirmar: “Não julgueis...”? Seria: “Não
façam qualquer julgamento”? A melhor maneira de se dar resposta para esta
indagação não consiste em folhear um dicionário. Meramente pesquisar sobre o
significado do vocábulo “julgar” não nos pode satisfazer quanto a esse ponto. Essa é uma palavra que se reveste de muitas
significações. Não se pode decidir a dúvida nesses moldes. Porém, é
vitalmente importante que saibamos exatamente o que o Senhor Jesus quis dizer.
Talvez nunca uma correta interpretação dessa injunção foi mais importante do
que na época presente. Diferentes períodos da História da Igreja têm requerido
diferentes ênfases e se me fosse perguntado qual é a necessidade hoje, a minha
resposta seria que é a consideração criteriosa desta afirmação específica.
Assim sucede porque a atmosfera inteira da vida moderna, especialmente nos
círculos religioso, é de natureza tal que se tornou vital uma correta
interpretação dessa asserção de Jesus. Estamos
vivendo em uma época em que as definições não estão sendo levadas a sério, em uma época em que os homens têm aversão
pelo raciocínio e odeiam a teologia, a doutrina e o dogma. Estamos vivendo
em uma época caracterizada pela apreciação ao lazer e à transigência – “paga-se
qualquer preço por uma vida sem conflitos”, conforme alguns dizem. Estamos em
uma época de conciliações. Esse termo não é mais tão popular quanto já foi, no
terreno da política internacional, mas a mentalidade que nele se deleita
continua viva. Vivemos em uma época que não aprecia homens decididos,
porquanto, segundo se costuma dizer, eles sempre causam dificuldades. Nossa
época tem aversão por indivíduos que sabem no que acreditam, e que realmente
acreditam em algo. Mas tais indivíduos são repelidos como pessoas difíceis, com
as quais é “impossível a convivência”.
Tem havido épocas, dentro
da História da Igreja, quando os homens foram elogiados por defenderem as suas
idéias a todo custo. Mas isso já não acontece hoje em dia. Atualmente, homens
assim são considerados difíceis, indivíduos que impõem aos outros a própria
vontade, que não cooperam com seus companheiros e assim por diante. O tipo de
homem que atualmente é elogiado é aquele que poderia ser descrito como “meio
termo” ou “eqüidistante”, que jamais se coloca em qualquer extremo de uma
posição. Pelo contrário, é um homem agradável a todos, que não cria
dificuldades para ninguém, e nem é causador de problemas por causa de seus
pontos de vista. Dizem-nos que a vida diária já é suficientemente difícil e
complicada sem que precisemos assumir posição firme no tocante a qualquer
doutrina em particular. Com certeza essa é a mentalidade de hoje, não
constituindo exagero afirmarmos que essa é a mentalidade controladora. Em certo
sentido, essa é uma atitude perfeitamente natural, porquanto já experimentamos
inúmeras dificuldades, problemas e desastres. Por semelhante modo, é atitude
bastante natural que as pessoas evitem os indivíduos dotados de pontos de vista
firmes, que sabem o que estão defendendo, porque todos preferem viver de maneira
descontraída e pacífica.
Em uma época como a nossa,
reveste-se da máxima importância que sejamos capazes de interpretar
corretamente essa declaração acerca do ato de julgar, porquanto há muitos que asseveram que as palavras
“não julgueis” precisam ser compreendidas simples e literalmente como elas
estão, como se indicasse que o crente verdadeiro jamais expressa uma opinião
sobre outra pessoa. Esses homens afirmam que não se deve exercer juízo
algum porquanto deveríamos ser suaves, indulgentes, e tolerantes, permitindo
quase qualquer coisa em troca da paz e da concórdia e, especialmente, da
unidade. Essa não é a hora certa para juízos, dizem eles; o de que precisamos
agora é de unidade e companheirismo. Todos deveríamos ser um.
Levanta-se, pois, a pergunta:
é possível esta interpretação? Em primeiro lugar, sugiro que esta interpretação é impossível.
Todavia, se nos alicerçarmos sobre os próprios ensinamentos bíblicos veremos
que tal interpretação não tem razão de
ser. Consideremos o próprio contexto dessa afirmação, e certamente veremos
que esta interpretação das palavras “não
julgueis” é inteiramente descabida. Leia Mateus 7:6 Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as
vossas pérolas, para que não as pisem com os pés, e, voltando-se vos dilacerem. Como poderia eu pôr em prática essa recomendação do Senhor se me
fosse vedado exercer juízo? Como eu poderia identificar o individuo do titulo
descritivo cão se eu não pudesse fazer juízo nenhum a seu respeito? Em outras
palavras, a injunção que se segue imediatamente após essa declaração sobre o não julgar de imediato me
pede que exerça juízo e discriminação. Mas também poderíamos tomar um contexto
mais remoto tal como Mateus
7:15 – Acautelai-vos dos falsos
profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos
roubadores? Como poderíamos entender
esta injunção? Como poderei acautelar-me dos
falsos profetas se não puder
pensar, se eu tiver tanto receio de fazer juízo critico que jamais possa fazer
uma avaliação dos ensinamentos de alguém? Esses falsos profetas, além disso, se
nos apresentam vestidos de em peles de ovelhas, o que equivale a dizer que são extremamente melífluos e empregam
a terminologia cristã. Parecem pessoas inofensivas, honestas, e
invariavelmente, mostram-se muito “gentis”. Entretanto, não nos devemos deixar
enganar pelas suas atitudes estudadas, acautelemo-nos diante de gente dessa
ordem. Nosso Senhor também diz: Pelos seus
frutos os conhecereis..” Mateus 7:16. Porém,
se eu não puder usar qualquer critério, e nem exercer minha capacidade de
discriminação, como poderei testar a autenticidade desses frutos e determinar
entre o que é certo e o que é errado? Por conseguinte, sem necessidade de
elaborarmos o nosso argumento, afirmamos a interpretação não pode ser
verdadeira quando sugere que as palavras de Jesus não julgueis, recomendam
que sejamos pessoas caracterizadas por uma atitude frouxa e indulgente, diante
de qualquer indivíduo que use o nome de “cristão”. Tal interpretação é inteiramente impossível.
Temos nesse trecho bíblico
o problema dos falsos profetas, para o qual o Senhor Jesus chamou a nossa
atenção. Espera-se de nós que possamos detectá-los e evitá-los, porém, isso é
impossível sem o conhecimento da doutrina, e sem o exercício desse conhecimento
em juízo. (14)
Esta
interpretação do Dr. Lloyd-Jones é coerente com inúmeras outras consultadas
pelo autor que incluem, mas não estão limitadas, às interpretações de:
§ Albert Barnes (15) – Presbiteriano, escreveu extensa obra, 14 volumes, chamada de “Notes”
no Antigo e Novo Testamentos.
§ Adam Clarke (16) – Metodista contemporâneo de João Wesley. Escreveu comentário de
toda a Bíblia.
§ Arthur K. Robertson (17) – Aliança Cristã e Missionária e pastor do autor na White Plains
Alliance Church em White Plains, New York, no século passado.
§ John Gill (18) – Batista que escreveu um comentário da Bíblia inteira publicado
em 1763.
§ Robert H. Gundry (19) – Reformado,
professor emérito de Novo Testamento no Westmont College em Santa Bárbara, CA.
§ William Hendriksen
(20) – Reformado, escreveu um massivo e
contemporâneo comentário em todo o Novo Testamento. Devido à morte de
Hendriksen, sua obra foi terminada pelo professor Simon Kistemaker.
§ Matthew Henry (21) – Não
conformista (puritano), escreveu o primeiro comentário de toda a Bíblia.
§ J. Newton Davis (22) –
Metodista, professor de Literatura e Exegese do Novo Testamento na Drew
University em Madison em New Jersey.
§ Robert Jamieson (23), A.
R. Fausset e David Brown, - Reformados, escreveram, no século XIX, um
comentário acadêmico de toda a Bíblia.
§ A. T. Robertson (24) –
Batista, professor de Interpretação do Novo Testamento Southern Baptist
Theologica Seminary em Louisville no Kentuky.
CONCLUSÃO
Creio que ficou
amplamente comprovado que é errado dizer que Jesus ensinou que não se deve
julgar em nenhuma hipótese e sob nenhum pretexto. Jesus nunca ensinou isto. O
ensino de Jesus e de todos os outros escritores do Novo Testamento é
consistente com a verdade de que não somente temos a permissão e o direito como
estamos sobre a obrigação de avaliar (julgar) qualquer reivindicação humana à
luz da verdade, pois como disse o apóstolo Paulo nada podemos contra a verdade, senão em
favor da própria verdade – 2ª
Coríntios 13:8.
São Paulo – Brasil – Maio de
2006
APÊNDICE
A seguir o leitor irá encontrar as definições em
português das expressões hebraicas fpv – shapat,
/yD – din e fpvm –
mishpat como apresentadas na concordância exaustiva de James Strong.
1. Strong # 08199 fpv – shapat
Uma raiz primitiva; ver Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento # 2443.
1) Julgar, governar, vindicar, punir.
1a) No Qal - Qal é o paradigma verbal
mais freqüentemente empregado. Expressa a ação "simples" ou
"causal" da raiz na voz ativa.
1a1) Agir como legislador ou juiz ou
governador (referindo-se a Deus, homem).
1a1a) Administrar, governar, julgar.
1a2) Decidir controvérsia (referindo-se
a Deus, homem).
1a3) Executar juízo.
1a3a) Discriminando (referindo-se ao
homem).
1a3b) Vindicando.
1a3c) Condenando e punindo.
1a3d) No advento teofânico para juízo
final.
1b) Nifal – Expressa o Passivo Simples
1b1) entrar em controvérsia, pleitear,
manter controvérsia
1b2) ser julgado
1c) Poel
1c1 juiz, oponente em juízo
(particípio)
2. Strong # 04941 fpvm – mishpat
Procedente de Strong # 08199; ver Dicionário Internacional de
Teologia do Antigo Testamento # 2443c.
1) Julgamento, justiça, ordenação.
1a) Julgamento.
1a1) Ato de decidir um caso.
1a2) Lugar, corte, assento do
julgamento.
1a3) Processo, procedimento, litigação
(diante de juízes).
1a4) Caso, causa (apresentada para
julgamento).
1a5) Sentença, decisão (do julgamento).
1a6) Execução (do julgamento).
1a7) Tempo (do julgamento).
1b) Justiça, direito, retidão
(atributos de Deus ou do homem).
1c) Ordenança.
1d) Decisão (no direito).
1e) Direito, privilégio, dever (legal).
1f) Próprio, adequado, medida, aptidão,
costume, maneira, plano.
3. Strong # 01777 /yD –
din
Uma raiz primitiva; ver Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento # 426.
1) Julgar, contender, pleitear.
1a) (Qal)
1a1) Agir como juiz, ministrar
julgamento.
1a2) Pleitear uma causa.
1a3) Executar julgamento, retribuir,
vingar.
1a4) Governar.
1a5) Contender, lutar.
1b) (Nifal) Estar em luta, em
desavença.
A seguir o leitor irá encontrar as definições em
português das expressões gregas
krinw - krino, anakrinw - anakrino e diakrinw - diakrino
como apresentadas na concordância exaustiva de James Strong.
1. Strong # 2919 krinw krino
Talvez uma palavra primitiva. Ver The
Theological Dictionary of the New Testament.
1) Separar, colocar separadamente,
selecionar, escolher.
2) Aprovar, estimar, preferir.
3) Ser de opinião, julgar, pensar.
4) Determinar, resolver, decretar.
5) Julgar.
5a) Pronunciar uma opinião relativa ao
certo e errado.
5a1) Ser julgado, i.e., ser chamado \a
julgamento para que o caso possa ser examinado e julgado.
5b) Julgar, sujeitar \a censura.
5b1) Daqueles que atuam como juízes ou
árbitros em assuntos da vida comum, ou emitem julgamento sobre as obras e
palavras de outros.
6) reinar, governar
6a) Presidir com o poder de emitir
decisões judiciais, porque julgar era a prerrogativa dos reis e governadores.
7) Contender juntos, de guerreiros ou
combatentes.
7a) Disputar.
7b) Num sentido forense.
7b1) Recorrer \a lei, processar judicialmente.
2. Strong # 350 anakrinw anakrino
1) Examinar ou julgar.
1a) Investigar, examinar, verificar,
analisar cuidadosamente, questionar.
1a1) Especificamente num sentido
forense no qual um juiz conduz uma investigação.
1a2) Interrogar, examinar o acusado ou
testemunha.
1b) Julgar de, estimar, determinar (a
excelência ou defeitos de alguma pessoa ou coisa.
3. Strong 1252 diakrinw diakrino
1) Separar, fazer distinção,
discriminar, preferir.
2) Aprender por meio da habilidade de
ver diferenças, tentar, decidir.
2a) Determinar, julgar, decidir um
disputa.
3) Fugir de alguém, desertar.
4) Separar-se em um espírito hostil,
opor-se, lutar com disputa, contender.
5) Estar em divergência consigo mesmo,
hesitar, duvidar.
(1) Todas as citações bíblicas neste artigo são
da versão de Almeida Revista e Atualizada (ARA) publicada pela Sociedade
Bíblica do Brasil a menos que outra tradução seja indicada.
(2)Ver “A Igreja Cristã no Brasil no Século
XXI”, “As Contradições da Cristandade”; e “Enganados de Propósito”.
(3) Por Cristandade o autor se refere a este
sistema completamente falido representado por todos os grupos que se denominam
cristãos e que pretendem estar seguindo os ensinamentos Bíblicos e imitando a
Jesus.
(4) Para uma avaliação completa do estado
moral que existia nos dias do profeta Jeremias o autor recomenda a leitura do
livro de John Skinner, Prophecy and
Religion: Studies in the Life of Jeremiah, Wipf & Stock Publishers,
Eugene, 1999.
(5) O dicionário Aurélio Século XXI diz o seguinte acerca do verbete “julgar”:
Do latim judicare. Verbo transitivo direto com os seguintes significados: 1)
Decidir como juiz ou árbitro; 2) Dar sentença, sentenciar; 3) Supor, imaginar,
conjeturar; 4) Formar opinião sobre; avaliar. Como verbo transitivo indireto o
Aurélio apresenta os seguintes significados: Formar juízo crítico; avaliar,
apreciar, ajuizar: Como pode ser facilmente deduzido a língua portuguesa define
o ato de julgar não somente como os atos de um juiz, mas também todos aqueles
atos produzidos por pessoas comuns no sentido de: supor, imaginar, conjeturar,
formar opinião sobre, avaliar, formar juízo crítico e apreciar. Como veremos
mais adiante neste estudo as palavras usadas no grego do Novo Testamento
ensinam exatamente estas mesmas definições.
(6) O autor emprega a palavra “bilhão” com o
significado da linguagem vulgar do português do Brasil, querendo significar 1
000 000 000. Para aprofundar o assunto, aconselhamos a leitura do artigo desta
página “Bilião do bilhão” http://www.estudos-biblicos.net/biliao.html
(7) Antigamente o estudo da lógica era parte integrante da grade curricular
do assim chamados cursos “Clássico e Científico”, que correspondiam ao segundo
grau moderno. Hoje percebemos a enorme falta que estes cursos fazem pela
absoluta incapacidade das pessoas de analisar logicamente o que ouvem ou vêm.
Se o que os crentes ouvem ou vêm procede da boca de algum destes indivíduos que
gostam de se intitular “Pastores, Reverendos, Mestres, Doutores, Bispos” e,
ultimamente, “Apóstolos”, ai então não existe mesmo nenhuma chance de se
exercitar os sentidos críticos fornecidos pelo nosso sábio Deus e Criador.
(8) O leitor mais atento, mas não familiarizado
com a língua hebraica irá notar que tanto fpv – shapat quanto fpv – shepet se
escrevem da mesma maneira, mas soam de maneiras diferentes. Isto se deve ao
fato de ser o hebraico uma língua consonantal (originalmente a língua possuía
somente consoantes) e o que faz a palavra soar diferente são as vogais associadas
à mesma. A vocalização da língua hebraica aconteceu somente durante a idade
média através de um grupo de escribas que ficou conhecido como os massoretas.
Nos dias do Antigo Testamento e até a idade média o texto do Antigo Testamento
não possuía vogais associadas às consoantes.
(9) Kohlenberger, John R. e Swanson, James A.,
editores. The
Strongest Strong’s Exhaustive Concordance. Zondervan, Grand Rapids, 2004.
(10) Idem.
(11) Harris, R. Laird, Archer Jr, Gleason L., Waltke, Bruce K. editores. Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª
Edição, reimpressão 2001.
(12) Newman, Barclay M. Jr. A Concise
Greek – English Dictionary of The New Testament. Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart, 1993.
(13) A chamada voz média na língua grega tem
algumas semelhanças com a voz reflexiva do português do Brasil já que a mesma expressa uma ação onde o
sujeito que faz algo, o faz em si mesmo, para si mesmo ou de si mesmo.
(14) Lloyd-Jones, Martyn. Estudos No Sermão do Monte. Editora Fiel da Missão Evangélica
Literária, São José dos Campos, 1ª Edição, 1984.
(15) Barnes, Albert. Barne’s Notes on The Old and New Testaments.
Baker Book House, Grand Rapids, 1980.
(16) Meyers, Rick, editor. Adam’s
Clarke Commentary. Publicado
na Internet no sítio E-Sword, 2006.
(17) Robertson, Arthur K. Everyman’s
Bible Comentary – Matthew. Moody Press, Chicago,1983.
(18) Gill, John. An Exposition of The
Old and The New Testament in which The Sense of The Sacred Text is Given.
Matthews and Leigh, London, 1809.
(19) Gundry, Robert, H. Matthew: A
Commentary on his Literary and Theologica Art.
William B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, 1982.
(20) Hendriksen, William. New Testament Commentary: Matthew. The Banner of Truth Trust, Edinburgh, 1974.
(21) Henry, Matthew. New
Matthew Henry Commentary. Hedrickson
Publishing Inc., Peabody, 1998.
(22) Davis, J. Newton em Comentário Bíblico de Abingdon – Tomo
II. Editorial
La Aurora, Buenos Aires, 1943.
(23) Jamieson, Fausset and Brown. Commentary on the Holy Bible.
William B. Eerdmans, Grand Rapids, 1960.
(24) Robertson, A. T. Word Pictures
from the New Testament. Baker Book House, Grand Rapids, 1981.
COMENTÁRIOS
Afonso Anciães Felício - Porto –
Portugal
Li este interessante trabalho
sobre inúmeras passagens do Antigo e Novo Testamento, nesta tão difícil arte de
julgar.
Julgar, sempre pressupõe
capacidade de saber analisar, discernir e medir valores. Precisa ainda de
experiência de vida e capacidade de visão de futuro. Fica sempre muito relativo
julgar aquilo que nos “parece”. As diversas experiências de vida relativizam o
sentido de julgamento e as necessidades do acto de julgar. Aquilo que me serve,
não serve a outro. Tarefa árdua e delicada.
Gostei do estudo. O seu autor
produziu um bom trabalho, bem documentado. Nunca tinha tido acesso a este tão
difícil tema. É uma boa contribuição para a vida espiritual e não só, na vida
social. Somos sempre confrontados para analisar, “julgar” e decidir.
Parabéns ao seu autor.
Para si envio um abraço e agradecimento de não se esquecer de ir enviando estes
bons trabalhos.
David de Oliveira – Goiânia – Brasil
Caro
irmão Alex.
Li
atenciosamente o teu artigo “Cristão pode julgar?” e gostei muito. Enquanto
estava lendo, imaginei o seguinte: o que é melhor para os lobos (a que refere o
apóstolo Paulo); sofrerem resistências em confrontos com a Palavra, tal como
faziam os bereianos ou a passividade e unanimidade de “seus seguidores”? É por
isso que a minoria questionadora é classificada de herética, terminando por ser
excomungada dos redutos a que chamam de igrejas.
Compare
Jeremias 5:30/31
com 2ª Timóteo
4:3/5.
· Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo
na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos
dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas
coisas chegarem ao seu fim? – Jeremias 5:30/31.
· Porque virá tempo em que
não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas
agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, não só
desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas. Tu, porém,
sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre
o teu ministério. 2ª
Timóteo 4:3/5.
Parece
que “religião” sempre foi um negócio dominado pelos mais espertos! “Fecham” com
os líderes religiosos para manobrarem a massa. Contratam os pastores-lobos;
aqueles que têm as mensagens de seus interesses em detrimento dos inocentes e
incautos “crentes”.
“Tende
cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs
sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não
segundo Cristo”. Colossenses
2:8. Se Paulo nos dá essa
advertência; não precisamos ouvir os lobos! São contra eles que o apóstolo está
falando!
Conferir na bíblia, se o que
estão dizendo é verdade; e não há nenhuma segunda intenção; é uma questão de
sobriedade, prudência e inteligência. Enquanto não compreendermos que a
responsabilidade é individual e pessoal, não mudaremos o que estão fazendo com
a Igreja de Cristo e os detentores dos poderes religiosos dançam de alegrias às
custas dos incautos da Palavra; que não têm discernimento espiritual, nem
tampouco senso crítico.
“Sobriedade” é a palavra
mágica de Paulo! Um bom dicionário irá completar o que Paulo está nos dizendo
ainda hoje.
Atenciosamente,
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